Por Carla Nagibe
O desemprego contribui para que quase 180 famílias sobrevivam da coleta seletiva de lixo em Pontal do Paraná. Apesar de ocuparem um importante papel na sociedade, vivem à margem dos nossos olhos. Você sabe quem coleta o seu lixo reciclável?
Pontal do Paraná possui uma população estimada de 28 mil habitantes (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / 2021). A separação física entre a periferia e o centro é um pouco diferente da maioria das cidades. A linha tênue que afasta e acaba por distinguir classes sociais no município é representada pela PR-412, via que percorre paralela aos quase 23km da orla de Pontal. De um lado seis quadras entre a via e o mar, onde as residências são mais valorizadas, a conhecida “faixa mar”. Do outro a cidade que cresceu em meio a comunidades menos favorecidas, incluindo espaços de invasões e onde está concentrada a maioria das pessoas com os índices mais altos de pobreza do município, que segundo o IBGE, é de 46,1%, colocando Pontal do Paraná na 50ª posição entre os 399 municípios paranaenses.
fonte: Google
A profissão de “carrinheiro”
O desemprego é uma das molas propulsoras que direcionam para uma atividade alternativa como fonte de renda. “Catador de material reciclável”, ou “carrinheiros” como costumamos denominar as pessoas que coletam lixo reciclável, é uma ocupação reconhecida pelo Ministério do Trabalho desde 2002 e apesar de exercerem uma função importante para a sociedade, em geral, todos que ganham a vida com esse trabalho não o fazem por opção. Segundo um estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), em cidades de até 100 mil habitantes, os catadores são responsáveis por praticamente 60,1% das coletas. Desde o reconhecimento da profissão pouco se evoluiu em relação a políticas sociais e normatizações que agregassem aos que dela vivem. A conotação que construímos sobre o lixo como sociedade é ruim, algo que “descartamos”, jogamos fora. Esses profissionais experimentam uma forma ambígua na sua relação com a o trabalho, como inclusão/exclusão e orgulho/humilhação. Outro aspecto pertinente a função está relacionada com algumas doenças e pequenos acidentes como a intoxicação pelo lixo, dores nas pernas, cortes e arranhões.
fonte: Amcorespp Facebook
Os coletores de materiais recicláveis de Pontal do Paraná
As associações surgiram para fortalecer e possibilitar aumento na renda dos que vivem de reciclagem. Em Pontal do Paraná aproximadamente 178 famílias vivem da reciclagem de lixo. A AMCORESPP – Associação Municipal dos Coletores de Resíduos Sólidos de Pontal do Paraná é uma das entidades que recebe a coleta de recicláveis dos balneários, através do caminhão cedido pela prefeitura, dos coletores individuais e pela entrega espontânea de quantidades maiores realizadas pela população diretamente na associação. No local é realizada a seleção e comercialização dos materiais que chegam, gerando renda para mais famílias além dos coletores.
fonte: Amcorespp Facebook
Algumas ações promovidas pela prefeitura do município, através da Secretaria de Meio Ambiente, caminham para aproximar esses importantes atores sociais de uma maior dignidade na atividade de onde tiram o sustento das suas famílias. Desde o início de 2022 a prefeitura tem ampliado as campanhas pela separação do lixo, e em junho iniciou um cadastro desses profissionais, com o objetivo de oferecer equipamentos de segurança individual (EPIs) e a possível participação em projetos habitacionais do município.
Apesar de ainda muito longe da uma valorização merecida para os que moram “do outro lado da rodovia”, o poder público aparece no cenário onde esses atores sociais vivem um monólogo, em meio a uma sociedade que parece não reciclar os seus pensamentos. Somente o engajamento do município como um todo, envolvendo terceiro setor, poder público e empresas privadas pode aos poucos mudar a condição de invisibilidade desses trabalhadores.